- Jamais me passou pela cabeça que isso fosse possível. Eu a vi há 5 dias atrás… não morávamos tão longe assim. Mas nossas vidas eram corridas. Ontem ela me ligou à tarde e me perguntou se eu queria tomar um café. Eu disse que tinha uma reunião rápida e que depois passava lá. Mas não fui… eu terminei o dia cansado, eu estava exausto. Eu não consigo entender como isso foi acontecer. Ela parecia tão bem. Eu não consigo ainda acreditar …
- Qual sua maior dor?
- Pensar que não posso mais vê-lá, nem ouvi-la… na verdade são tantas dores… eu nem sei por onde começar …
Assim eu iniciei o processo terapêutico. Iniciei quando o fim chegou, quando não tinha mais para onde ir. Justo eu… filho de psicologa. Hoje estava la com um celular na mão conhecendo uma outra terapeuta que pudesse, de alguma forma, cobrir o vão que minha mãe deixou inesperadamente.
Enterrei minha mãe ontem. Há dois dias acordei e descobri que ela não estava mais aqui. Meu celular tocou e seu consultório estava fechado. O porteiro achou estranho porque ela sempre é a primeira a chegar. Aliás, era. Eu tentei chamar seu celular inúmeras vezes sem sucesso. Então resolvi ir até lá. E, para minha surpresa, ela estava caída no chão da cozinha, já morta. Segundo os médicos, ela teve um infarto fulminante e faleceu.
Ahhh… aquele maldito café. Hoje eu liguei para ela de novo para saber se eu poderia ir até lá e vê-lá. Mas sem sucesso, ela não me responde mais. E eu, ainda me pergunto o que realmente faz sentido nesse mundo pra mim. Se eu tivesse ido até lá, se eu tivesse ligado para dizer que não ia, se eu tivesse feito aquela viagem para Portugal com ela que ela tanto queria. Se eu tivesse… não há tempo mais.
Eu só queria mais uma chance. A despedida foi tão fria. Eu só queria perguntar como ela está, como ela se sente. Era sempre ela preocupada comigo, eu nunca me dei conta disso.
E, sendo filho de psicologa, acho que era bem normal ser questionado pelos meus sentimentos. Só queria ter feito algo por ela. Mas não deu tempo. Ela morreu e eu nem se quer pude dizer o quanto ela foi importante e significante pra mim. O quanto eu admirei e amei. O quanto foi sortudo por te-la. O quanto eu queria poder ter segurado a mão dela antes de ela partir. O quanto eu fui imbecil por não ter escutado seus muitos conselhos.
O quanto sou grato …
Eu só queria voltar há 3 dias atrás e ir tomar meu delicioso café com a mais perfeita companhia. Encher de açúcar meu copo e o dela, levar ela na pizzaria preferida e depois, dormir na cama dela como ela fazia quando eu era menor.
Mãe, eu nunca vou te esquecer.
Mas por um tempo, preciso de terapia. Aos 35 anos, preciso de um colo. E desta vez, infelizmente, não poderá ser o seu…