Postagem do Facebook em 08/08/2018


HOMENAGEM DE DIA DOS PAIS – CARTA DE UM PAI

Meus filhos…
Essa semana será dia da minha homenagem, mas eu resolvi escrever para vocês.
Antes de vocês nascerem, minha vida era bem diferente. Eu não tinha compromisso demasiado com nada. Eu podia tudo a qualquer momento. Eu mudaria de pais, de casa, de cidade, de emprego sem muito ter que pensar.
Depois que vocês vieram tudo mudou. Eu ainda era jovem, talvez não de idade, mas de maturidade. Eu não sabia o que era ter a responsabilidade de um filho. Eu imaginava que as coisas mudariam, mas nem tinha dimensão do quanto.
Em primeiro lugar, perdi minha esposa. Sim, essa é a realidade do casal quando entra um filho. Tudo que sua mãe fazia para mim, agora era destinado a você. E seu eu pedisse, ouviria ainda: “eu não tenho dois filhos”. Então começou a adaptação.
Quando o bebê nasce, além de perder a esposa, nada muda. Passamos um tempo sem sexo porque a mulher muda também: ali nasce uma mãe. E posso te garantir: a mãe nasce primeiro que o pai. O pai nasce com o dia a dia, a convivência. Todo dia que chega em casa tem alguém ali que você pode chamar de seu. Seu herdeiro, sua conquista. E dia após dia, nasce o pai. Ele não nasce na barriga da mãe, como é o caso da mulher.

Me lembro da primeira vez que ouvi a palavra “papai”. Vocês cismavam de dizer antes até de aprender “mamãe”, para a infelicidade dela. Foi um momento mágico em que me deparei com a seguinte situação: Cara, você é pai. Você agora não está sozinho. Você tem uma família. Você conseguiu ser alguém de sucesso!
Porque sucesso é isso: trabalhar que nem um louco para chegar em casa e ver todos vocês com uma roupinha boa, comida na mesa, estudando. Ver que eu consegui cumprir com minhas obrigações de pai. Eu sei, estranho isso. Mas cumpri-las me dá a sensação de que eu não fracassei.
Depois de vocês, eu nunca mais pensei em pular do barco com a facilidade que eu fazia antes. Nem do casamento, nem de casa, nem de trabalho. Eu me tornei um pouco frágil e medroso. Eu queria apenas que vocês estivessem seguros, mesmo que eu não estivesse tão feliz. Eu sei, talvez não tenha ensinado isso corretamente a vocês. E a culpa não é de voces, podem acreditar. As preocupações tomaram tanto espaço em minha vida que eu deixei de aproveitar o momento com vocês. Eu nem sempre estava presente, nem fisicamente nem mentalmente. E sei que isso fez falta.

Se eu pudesse voltar atrás, tudo seria diferente. Eu brincaria mais, eu ouviria mais, eu imporia menos. Eu negociaria mais, eu daria mais carinho. Mas não posso voltar.

Eu estou aqui para lhes pedir perdão. Perdão porque além disso que eu aprendi que era ser pai, eu não aprendi muito mais. Eu estou aqui para dizer-lhes que eu deveria saber que vocês precisam de muito mais: que eu lhes escute, que eu lhes abrace e que eu lhes diga que eu amo vocês. Eu também preciso disso, podem acreditar. E quanto mais a idade chega, mais a gente precisa. O problema é que não aprendi a pedir isso. Eu não tive isso. E só de pensar em pedir, minha garganta aperta e eu quero chorar. Pense como é para mim chorar na frente de vocês???
Então, eu quero pedir-lhes um presente de dia dos pais. Eu quero pedir-lhes que além de me perdoar por não ter sido o melhor pai que poderiam ter, eu quero pedir um abraço apertado, um beijo, e um eu te amo. Eu quero que vocês me presenteiem com suas presenças, que vocês perguntes as histórias da minha vida. Que o celular não seja empecilho para que a gente converse, ao vivo. Que vocês não se importa com o meu presente, eu só quero que vocês me ensinem como ser um melhor pai. Que você me peçam conselhos, mesmo que eu não saiba de nada e que não tenha muito a oferecer com essa minha experiência. Mas que eu participe da vida de vocês. Porque eu quero aprender e melhorar. E quero que vocês confiem que eu sou capaz de fazer isso.

Muito obrigada por me darem tudo de melhor que tenho na minha vida. Muito obrigada por me darem a oportunidade de ser pai.

Texto: Viviane Siqueira

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