Postagem do Facebook em 03/07/2019


Eu sofri com a REJEIÇÃO.
Aos 7 anos de idade, eu tive uma briga de criança, com a vizinha da frente de casa. E os pais dela se enfureceram e resolveram que nós não poderíamos mais nos falar, nem mesmo as famílias.
Ela era minha melhor amiga. Nossos melhores amigos. Meu pai trabalhava com o pai dela. E eu sofri muito com isso, e com a culpa que carreguei por criar essa situação.

Essa foi minha primeira depressão.

Como a nossa casa ficava de frente da dela, era impossível não vê-la todos os dias. Os pais dela passaram a comprar os melhores brinquedos para elas (tipo jogos, casa da Barbie, montavam piscina), coisas que meus pais não poderiam me dar, e montavam na garagem da frente da casa.
Para piorar a situação, eles chamavam todas as crianças da rua para brincar com eles e eu, ficava trancada do lado de dentro da grade de casa, olhando eles todos brincarem, chamando meus amiguinhos um a um pelo nome, chorando, implorando para vir brincar comigo com a minha única Barbie. Óbvio: eles não vinham. Nem eu acho que viria com tantas opções.

Minha mãe entrava em profundo desespero e tentava de toda forma me colocar para dentro de casa, mas era em vão. Eu continua a observá-los pela janela. Parecia uma fixação. Eu não entendia o que eu havia feito de tão grave para merecer aquilo. Eu rezava à noite para Deus me perdoar.

Isso durou 2 anos. Exatos dois anos. Nesse tempo meus pais tentaram desesperadamente mudar de casa, trocar a casa, vender etc. Mas não conseguiram porque a casa era financiada. E porque meu destino era passar por aquilo, talvez, com resignação. Até para depois de 30 anos poder contar isso a vocês.
Depois de 2 anos, em um belo passeio de bicicleta (que até hoje me recordo até a cor do céu), do nada, ela se aproximou e falou algo qualquer comigo. Foi o dia (até então) mais feliz da minha vida. E tudo voltou à estaca zero. Menos eu.

O fato é que essa rejeição de 2 anos me tornou uma pessoa dura. Eu passei a não confiar em amigos ou em amizades. Era de muitos colegas, poucos amigos. Essa rejeição da infância fez com que eu lutasse por bens materiais e tivesse a crença profunda de que pessoas se interessam por quem tem o que oferecer.

Essa crença me fez aprender a me rejeitar, me comparar, competir. Me fez até duvidar dos meus pais e da capacidade que tinham para me defender.

Depois de muitos anos estudando isso, vejo que as crianças não estragam a vida de ninguém. Mas os pais, com toda sua experiência de vida, destroem as crianças. Eu fui rejeitada, humilhada, deixada de lado. Eu, com sete anos, dormia chorando todos os dias, me sentindo menos, inferior aos outros. E essa situação me fortaleceu, mas de uma forma desproporcional a minha idade. Me tornei uma pessoa racional, capaz de tomar decisões mesmo na dor.

Minha dor até hoje é a REJEIÇÃO.
E infelizmente por esse mesmo motivo evolutivo, eu a trouxe para minha vida muitas vezes. Ela tira o pior de mim, em todos os aspectos. Me transforma em um monstro, pronto a devorar.

Ela é a única coisa que temo. Não por mim, mas pelos outros. Luto contra ela todos os dias da minha vida. Com todas as ferramentas que possuo. Tipo… “orai e vigiai”. Até porque, quando temos uma dor, não somos ela, mas se não cuidamos transformamos nela, fazendo o mesmo com os outros.

Mas o melhor disso é que, saber seu verdadeiro inimigo te dá mais força para lutar contra ele. Ser sincero com a gente mesmo é o primeiro passo para isso.

Relato da vida pessoal de Viviane Siqueira, O que Eu Aprendi com Meus Quase 40 anos.