Postagem do Facebook em 04/08/2018


EU NÃO AMO MAIS O MEU MARIDO
Capítulo 2 – As descobertas

Eu cheguei no carro sorrindo. Ele me perguntou como havia sido a consulta. Eu disse que foi o melhor presente da minha vida. Ele ficou quieto, com uma cara de estranheza.

Na nossa festa, ele estava muito bonito. Eu também. Fazia tempo que eu não o via tão cheiroso. Para te ser honesta, acho que eu não sabia mais qual era o cheiro dele.

Eu aproveitei o momento do brinde para lascar-lhe um beijo. Não foi lá essas coisas porque ele se assustou. E não retribuiu.

Nos próximos dias eu tentei me reaproximar.
Eu fiz café da tarde para ele todos os dias. Ele sempre gostou de ter a mesa posta. Mas ele não sentou, não deu importância. Era como se meu esforço fosse em vão.

Eu confesso que começou a vir um certo desespero em pensar que eu não teria outra chance. E depois de uma semana, lá estava eu no consultorio da “doutora dos milagres” como eu a apelidei.

- Bom dia Dolores! Como você está?
- Estou bem doutora. ‘Mas a coisa me parece estar bem pior do que eu pensei.
- Porque?
- Ah… eu tentei investir essa semana e não deu muito certo, sabe? Acho que ele se assustou um pouco
- Penso ser normal né …
- Como assim doutora?
- Bem, faz um tempo que você não faz nada por ele, eu penso que ele pode estar um pouco confuso com sua mudança de comportamento. Pense em um cachorro que sempre apanha: ao chegar próximo de quem o maltrata, ele estará arredio. Assim também é o ser humano.
- Doutora, mas eu o maltratava?
- O que você acha?
- Acho que não. Eu não fazia por mal.
- Entendo perfeitamente que não fez por mal, mas o fato é que não importa a intenção, a atitude aconteceu.
- Entendi… mas porque eu fiz isso?
- Vamos descobrir agora… Me conte um pouco de como eram seus pais e o relacionamento deles.
- Bem, eles não se amavam. Não se davam bem. Era meu pai chegar do trabalho que começava a confusão. Minha mãe não suportava ficar perto dele um segundo. Meu pai, as vezes provocava a situação. Mas nem sempre. Minha mãe dizia que era uma besteira ter filhos e que se não tivesse filhos ela sumiria.
- E vc? Enxerga alguma semelhança no seu comportamento com o comportamento de sua mãe?
Nesse momento, pensei, pensei mas não encontrei nenhuma semelhança. Até porque eu jurei para mim mesma que nunca seria como minha mãe. Eu odiava a forma dela viver a vida sempre reclamando de tudo.
- Não… eu as vezes falo aos meus filhos que eu não deveria ter casado e que filhos dão muito trabalho. Mas só quando estou nervosa.
- E sua mãe? Ela dizia isso sempre?
- Sempre que estava nervosa … nossa… parece que estou vendo semelhanças …
- Interessante… me conte o que mais lembra de quando criança.

Começaram a cair minha fichas. Eu comecei a lembrar de cenas que eu vivi. Me lembro de um dia ela dizer ao meu pai que se arrependia muito de ter casado e que não sabia o que havia visto nele! E fui lembrando de mais coisas e dores que eu e meus irmãos passamos.

- Me lembro de meu pai chegar e eu ficar feliz por ele estar em casa, e ela reclamar que ele não a ajudava e ele sair de casa para beber. Parecia que ele não aguentava ficar em casa com ela falando. Mas quanto mais ela falava, mais ele fazia. Parecia que ele queria provoca lá.
- E vc vê alguma semelhança com vc? Você irrita seu marido?
- Sim.. muito. Ele sempre foi calmo, mas eu falo tanto que ele fica irritado. E sai de casa para dar uma volta.
- Ele bebe?
- Não doutora, graças a Deus. Ele vai caminhar um pouco e volta.
- E quando ele volta?
- Eu falo mais e mais na cabeça dele. E ele vai dormir.

Caramba! Igual minha mãe fazia quando meu pai chegava do bar! Apesar de meu marido não estar no bar, era igual. Eu fui me assustando cada vez mais com a semelhança.

- Voce vê alguma semelhança com sua mãe?
- Inúmeras doutora … estou muito triste com isso. Tenho feito meus filhos passarem pelo mesmo que eu vive porque não consigo me controlar. E meu marido também. Mas o que devo fazer?
- Bem, isso que você passa tem um nome, chama se “pacto de vingança”. O que deve fazer é perdoar seus pais e parar de se vingar de sua própria história.
- Mas o que é isso Doutora? Eu estou com o que?
- Calma. Tem solução. Quando sofremos na infância, é muito comum fazermos as pessoas a nossa volta pagarem nossa história e até mesmo nós, como se não merecêssemos viver outra coisa se não aquilo. Somos fadados a repetir nossas dores ou causa-las em alguém próximo a nós. E nos destinamos a viver as mesmas coisas.
- Nossa doutora! E o que eu faço?
- Agora você fará diferente. Você vai perdoar sua história e vamos começar do zero.
- Como? Isso é possível?
- Sim! Claro! Você é uma adulta e pode escolher como quer viver sua vida!
- E o que devo fazer?
- Quero que chegue em casa e faça uma carta em uma folha qualquer aos seus pais. Escreva nessa carta o quanto sofreu com o comportamento deles e o quanto foi difícil viver daquela forma. E que você quer perdoa-los para ser feliz e seguir sua vida. Depois de escrita, você a queimará.
- Certo… vou fazer isso. E quanto ao meu marido?
- Continue a conquista-lo. As coisas aos poucos serão diferentes e você será muito feliz. Tenha paciência com você e com as pessoas a sua volta. Te vejo na próxima semana?
- Claro doutora! Eu estou muito feliz com meu tratamento. Foi Deus quem te colocou em minha vida! Muito obrigada!

Sai do consultório triste, mas ao mesmo tempo, esperançosa por pensar que há um caminho. E que ele estava diante aos meus olhos o tempo todo. Parece que minha história de vida influenciou nas minhas escolhas. Mas eu vou conseguir vence-la.
Agora o negócio é continuar agradando meu marido e também meus filhos porque eu tenho grande participação nas coisas que andam acontecendo em minha casa. E como a “dona do lar” eu preciso me dedicar a consertar isso e salvar minha família.

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Contos Psicanalíticos – Viviane Siqueira

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