Postagem do Facebook em 03/08/2018


EU NÃO AMO MAIS O MEU MARIDO
É sério.
Depois de três filhos, uma casa comprada com muito sacrifício, meu sofá que pedi por 10 anos e que agora conquistei, percebi que não o amo mais.
Não há nada que me faça admira lo.
Ele ronca, ele arrota. Ele fala alto. Ele não se importa comigo.
Ele não me vê. Eu não suporto mais ser nula na minha própria vida.
Ao longo dos 20 anos juntos, estamos prestes a comemorar nosso aniversário de casamento. É amanhã. E as visitas já estão chegando.
Tera uma festa. Minha filha que organizou tudo. E eu comprei um lindo conjunto de seda para usar. Eu amo seda. Mas não amo o meu marido.
Olho para ele e penso como foi que nos casamos. Eu não recordo o que me fez apaixonar-me loucamente pelo garoto mais lindo da escola.
Bem, sei que ele também não me ama. Eu tenho certeza. Ele não me olha.
A vida nos transformou em Zumbis. Resolvi então hoje marcar uma sessão de terapia que adiei ha anos. Hoje será meu presente de casamento, vou me dar isso.
Cheguei na terapia. A sala em silêncio quando escuto a terapeuta me chamar.
- Dolores?
- Sim! Muito prazer!
- Entre!
Sentei naquela poltrona como quem ia para o matadouro. Eu não sabia o que dizer em 50 minutos. Eu nem sei o que eu fui fazer ali. Pra dizer a verdade, acho que foi um grito de socorro em busca de liberdade.
- o que te traz aqui?
- Bem, eu quero me separar.
- Entendo… a quanto tempo você se casou?
- Ha 20 anos. Hoje fazem vinte anos.
- Puxa! Parabéns! E desde quando você pensa em se separar?
- Desde hoje pela manhã.
- Serio? O que te fez pensar nisso?
- Eu não o amo mais.
- E o que te traz essa certeza?
- Eu olho para ele, eu não sinto nada. Eu não consigo ver nenhum ponto que eu goste dele. Ao longo dos anos, eu virei mãe de três filhos e ele, pai que sustenta a casa. Eu me sinto a empregada. A que tem que dar conta de tudo. E ele o cara que paga a conta a quem eu devo respeitar.
- Entendo… vocês têm relação sexual?
- Claro que não doutora! Como poderíamos?
- E porque não poderiam?
- Porque… porque eu sempre estou muito cansada por ter que dar conta de tudo
- Mas alguma vez já conversaram sobre isso?
- Eu sempre reclamo doutora! Eu falo que eu não sou empregada, que ele tá mal acostumado, que ele me faz de idiota e por aí vai.
- E o que ele te diz?
- Nada! Fica me olhando com aquela cara de raiva e não faz nada. É como se ele não me ouvisse!
A medida que eu falava o que sentia, meu desespero aumentava. Eu tinha cada vez mais certeza do quanto aquilo me fazia mal. Ela continuou perguntando meus incômodos e eu, cada vez mais certa de minha decisão.
Foi então que ela me perguntou:
- Se eu perguntasse ao seu marido o quão boa esposa você, o que ele me diria?
Pela primeira vez, naquele momento, eu pensei em como eu era com ele. Eu pensei em como era para ele chegar às seis da tarde todos os dias, e ouvir todas minhas lamentações por 20 anos. Como era ter uma mulher que se transformou em mãe e abandonou o casamento. O quanto chato seria conviver comigo diariamente. E o quanto eu fazia da minha vida uma verdadeira equação algébrica. E foi então que ela me perguntou:
- Você se casaria com vc?
Emudeci. Eu não sabia o que dizer. Eu verdadeiramente não sabia se eu me casaria comigo. Eu era uma pessoa cheia de vida e me transformei num saco de problemas. Claro que meu marido não era o culpado único de minha infelicidade, muito menos de minha insatisfação. Eu era a responsável por permitir que minha vida estivesse lá onde estava.
- Você acredita que, se hoje, ele estivesse solteiro, e você o conhecesse em uma festa, ele te conquistaria? Se você não soubesse absolutamente nada sobre ele, ele te chamaria a atenção?
- Sim… ele me chamaria a atenção.
- Então, porque não experimenta viver a vida de uma outra forma? Começando por dialogar ao invés de reclamar, ser clara com o que você deseja do outro.
- Eu acho um bom começo…
- E que tal tentar abrir mão de ser conquistada para conquistar um pouco? Que tal tentar conquista lo?
- Também acho que seria muito interessante e desafiador …
- Que bom! Então na próxima sessão, começaremos a entender como você enxerga seu casamento, seus padrões de relacionamento, o que você viu de seus pais e copiou para sua vida e o que te impede de ser feliz, ok?
- Ok! Não vejo a hora!
- E agora? Você ainda quer se separar?
- Por hora não … eu gostaria de tentar.
- Que bom! Então comemore! Tem uma festa te esperando né?
- Tem sim… inclusive meu marido veio me trazer e está lá no Estacionamento me esperando para me levar pra casa. Eu preciso agradece lo por isso… e de repente … retribuir com um café é um sorriso.
- Com certeza, será o melhor café que já tomou nos últimos tempos!
- Obrigada doutora, até mais.

Contos Psicanalíticos- Viviane Siqueira

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