Postagem do Facebook em 09/08/2018


CAPÍTULO 6 – O AMADURECIMENTO

No outro dia ele acordou cedo para trabalhar e eu me levantei junto com ele. Há anos não fazia isso. Eu levantei e preparei um café para ele. Ele me convidou para caminhar a noite com ele. Em outras épocas eu entenderia isso como uma ofensa. Mas hoje não! Eu fiquei feliz de ele ter me convidado. E disse que eu iria.
Eu comecei a me sentir viva de novo. A doutora pediu que eu repetisse o exercício com meu pai e com o Toninho. Eu fiz todos os dias. Depois ela pediu que eu fizesse também comigo, me imaginando quando eu era criança e como sou agora. E que eu repetisse aquelas palavras para a minha criança interna. Ela me explicou que todos temos uma criança interna dentro de si e que temos que cuidar dela por toda nossa vida, com muito respeito, amor e paciência. E me disse que cheguei ao tratamento imatura emocionalmente e que tem muitos adultos assim. Eu tive que concordar né. A doutora sabe das coisas. E eu realmente me sentia como uma criança desprotegida.
A noite fomos caminhar e Toninho pegou uma florzinha no caminho para mim. Uma florzinha normal de chão, sabe? Mas eu me emocionei … achei um gesto tão lindo. Ele me abraçou e me disse: “É minha véia, temos que cuidar um do outro. Somos só nós para a vida toda. As crianças estão crescendo e nós ficarmos em casa, sozinhos. Daqui a pouco me aposento e podemos passear, viver a vida. Porque não podemos escolher ser felizes juntos? Eu sei que não sou fácil e tenho defeitos. Mas a gente se ajeita e aprende. É sempre tempo de aprender. E eu escolhi você para ser minha companheira de vida. Nunca pensei em outra pessoa. Quero viver com você, feliz. Assim como estamos. E isso só depende de nós. Chega de brigas por coisas bobas, chega de se irritar por qualquer coisa. Eu estou tão feliz porque você veio caminhar comigo. Eu gosto de sua companhia. Eu me sinto bem quando você está bem. Parece que me sinto completo, vitorioso. Tudo que fiz até hoje foi por nós. Eu sei que não foi muito, mas foi sempre por nós. Me perdoe se não fiz sempre o certo. Eu amo você.”
Nossa, uauuuuu!!!!! O Toninho me deixou de boquiaberta, ele nunca falou tanto. E falou olhando pra mim! Normalmente quem fala muito sou eu e dessa vez ele que falou! Tudo bem, vai. Eu sempre falo muito mas só brigo. Falo pra xingar, criticar. Então isso não conta.
Mas eu fiquei maravilhada! Eu estava sem palavras.
Falei que meu tratamento estava ao final. E que eu gostaria de topar aquela viagem que ele sempre da indireta de fazer. Mas que ele queria sair com ele e ficar em hotel, nada de casa de parente como ele sempre fala. Ele me pediu para escolher onde eu gostaria de ir. Eu escolhi Minas. Qualquer lugar de Minas. Eu adoro Minas. Combinamos de pesquisar uma coisa bem baratinha para um final de semana.
Eu pedi que fôssemos visitar minha mãe. E fomos no outro dia.
Chegando a minha mãe, eu a olhei e a vi tão velhinha. Parecia que eu não tinha visto o tempo passar. Eu deu um abraço nela. Mamãe sempre foi uma pessoa muito sisuda e não esboça reação. Mas ela sorriu e me abraçou. Eu a olhava tanto… era estranho. Parecia que não a olhava há tempos. Ela me ofereceu um café, conversou sobre a semana e os médicos, sobre as dores de coluna. Fazia uns quatro meses que não a via. Ela me contou que meus irmãos tinham ido na casa dela final de semana e que perguntaram por mim. Eu me emocionei. Eu estou parecendo uma manteiga derretida mas a doutora fala que é normal, parece que estou destravando minhas emoções que eu guardei por muito tempo. Ao ir embora, ela me pediu que eu a visitasse mais vezes. Não moramos longe. Eu combine de tomar café com ela toda quarta feira. Ela ficou tão feliz que disse que fará um bolo toda semana diferente. Eu prometi que levaria qualquer domingo as crianças também. E vou cumprir.
Quando olho para trás eu vejo o quanto eu mudei meu olhar nesse período. As coisas não mudaram. Eu não mudei de país ou cidade. Mas o meu olhar sobre as mesmas coisas mudou. E isso me fez tirar a armadura que me era pesada para poder viver mais leve. Eu sei que temos muitos obstáculos à vencer. Mas que vida não tem né? Eu estou dispostas a transpo-los ao invés de acumula-los.
E essa semana tem a doutora. Quero contar tudo isso a ela.

Não perca o último capítulo do conto de Dolores amanhã ❤️

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