Postagem do Facebook em 06/08/2018


Capítulo 4 – Exercitando a Terapia
Conto “ EU NÃO AMO MAIS O MEU MARIDO”

Quando cheguei em casa estava bem desanimada. Não queria arrumar a casa nem mesmo a mesa para o café. Queria só pensar na vida. Me assustou um pouco sabe? Como eu pude me tornar igual a minha mãe e fazer com o Toninho o que minha mãe fez com meu pai? Foi bem estranha a sensação. Eu quis só deitar e dormir para esquecer.
Quando acordei o Toninho já havia chego. Ele estava tomando café na sala e disse que precisa ir a doutora porque ela havia o chamado. Eu já sabia que ele seria chamado porque a doutora me disse que o chamaria para entender como ele vê nossa relação. Só não sabia que seria hoje, bem no dia que eu não queria nem me levantar.

Ao chegar da conversa, ele estava sorrindo, feliz. Disse que não ia sair para caminhar.
- Como foi lá Toninho?
- Foi interessante, gostei da doutora. Ela sabe das coisas.
- O que ela sabe?
- Nada ué, quis dizer que ela é estudiosa. Você quer um café? Vou fazer um pra você .
- Quero …
Nesse momento eu pensei: Isso é coisa da doutora! Toninho me oferecendo um café???
Mas aceitei. Fui a mesa com ele
- Você cortou o cabelo, está bonita.
- Oi???
- Você está bonita com esse cabelo.
- Toninho, eu não cortei o cabelo.
- Mas tem algo diferente. Você está mais bonita.
- Acho que dormi um pouco, foi isso.
Era coisa da doutora!!! Agora eu tinha certeza!!! Mas tava tão bom que eu deixei. Eu não falei nada, entrei na dele.
- E porque não tomamos um vinho ao invés de um café.
- Seria muito bom! Podemos sim.
Naquela noite, eu ri como nunca! Foi muito bom! Há muito não nos divertíamos tanto. Eu ainda tinha a tarefa da doutora a fazer mas naquele momento eu precisava descontrair minha mente. E me diverti. Ríamos de tudo como era no começo. Ele lembrou de como a gente se conheceu. Puxa, foi muito legal mesmo. Ele era o garoto mais paquerado da escola. Ele brincou, falou. Estava tudo leve, tranquilo.
Fomos dormir juntos quando as crianças chegaram da escola. Elas estranharam a gente batendo papo e rindo. Mas deu pra ver que ficaram felizes. Filhos querem os pais juntos, não importa o que aconteça.

Deitei-me mais próxima a ele. Foi bem bom. Me senti segura. Lembrei que isso foi o que me fez escolhê-lo para casar: ele me trazia segurança. E parece que o encanto começou a voltar a acontecer.

No dia seguinte acordei disposta a escrever a carta que a doutora me pediu. Peguei o papel e comecei a escrever tudo que vinha na minha mente. Parecia que estava falando com eles. Eu nunca tive uma experiência tão forte em toda minha vida. A cada detalhe que eu lembrava as lágrimas escorriam. Lembrei de como era difícil ter que ouvir minha mãe chamando a gente de vagabundos, até de nome feio ela chamava. Ela dizia que eu era burra e que nunca conseguiria terminar a escola. Eu desisti da escola. Ela me fez acreditar que eu não era capaz.
Meu pai por sua vez sempre bebia e não estava presente. A nos restava a sua companhia quando dormia. Ele era um bom pai mas se ausentou de nos criar. Fomos criados só da maneira que minha mãe queria, ele nunca opinou. O resultado foi um irmão alcoólatra, uma irmã solteirona e eu. Minha mãe é ainda viva, mas eu pouco a visito. Porém naquele momento eu sentia um misto de raiva e dor: porque eu tive que viver tudo aquilo? Eu era apenas uma criança num lar desequilibrado!!! Eu não pedi para nascer!
Escrevi ali toda a raiva que nunca pude sentir em toda minha vida. Foram 12 folhas de dor e desespero. E ao final, quando foi escrever que os perdoava, a caneta não saia da minha mão . Parecia uma paralisia, sabe? Não ia mesmo!!! Eu tentei, tentei e desisti. Isso tenho que falar com a doutora na próxima sessão.

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Contos Psicanalíticos – Viviane Siqueira

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