Postagem do Facebook em 05/08/2018


A pedidos …O MARIDO DE DOLORES…

A visão de um homem num relacionamento amoroso

Eu não sei mais o que fazer.
Minha esposa me deixa confuso. Foram anos tentando de todas as formas entendê-la, até que desisti. Foram anos tentando agradar: lava a louça, coloca seu copo na pia, não entra de sapato e um monte de outras regras que eu nunca entendi porque existiam. Mesmo assim sempre tentei respeitar.

Minha cabeça funciona um pouco diferente. Eu não quero brigar. Então tento fazer tudo que ela me pede para viver bem. Só que ela entende isso como um afronto. Ela acha que faço para provocar. Então, se eu não faço o que ela pede, é porque eu não estou nem aí. Se eu faço é porque estou provocando. Fica um pouco difícil.

Bem, não me penso em separar. São 20 anos juntos e três filhos. E também não tenho energia para começar de novo: mulher é tudo igual. Então o negócio é ficar quieto aqui.
Se eu sou feliz?
Não sou feliz. Nem infeliz. Acostumei a viver assim. Claro, não foi a vida que eu gostaria. Mas nem tudo é do jeito que queríamos e conversando com meus amigos é sempre assim mesmo.

Hoje a doutora dela me ligou para ir até o consultório falar com ela. Eu não gosto dessas coisas, expor a nossa vida para as pessoas. Mas ela me chamou eu vou. Vamos ver o que dá.

- Boa noite Sr Antônio, tudo bem? Muito prazer!
- Boa noite doutora! Desculpa o horário que consegui marcar, eu trabalho até tarde.
- Sem problemas! Um grande prazer tê-lo aqui. Eu gostaria de fazer algumas perguntas. Posso?
- Pode sim doutora.
- Como é o seu relacionamento com sua esposa?

Nesse momento veio tanta coisa na minha cabeça: eu falo a verdade ou não? O que ela vai pensar? Mas foi com toda coragem que me restava para falar. Vai que dá certo.

- Então doutora, nos casamos cedo. Dolores tinha vinte e dois anos e eu vinte quatro. Acho que ela não viveu muito a vida e hoje me culpa por isso.
- Entendo… e você se sente culpado?
- As vezes sim doutora. Afinal fui eu quem a tirei dos pais dela né? Acho que ela não é feliz comigo.
- E o que você sente com relação a isso?
- Tristeza doutora. Mas homem é diferente. Homem aguenta mais sabe?
- Entendo. Você acredita ser mais resistente ao sofrimento?
- Eu não dou tanta importância, acho que é isso. Eu acostumei.
- Mas você acredita ser melhor se acostumar do que resolver?

Nessa hora doeu. Eu sou um “bundão” mesmo , acho que a doutora pensa isso de mim. Eu fiquei parado pensando … e respondi:

- Mas como resolver?
- Conversando… o que acha?
- Mas doutora, a Dolores não escuta ninguém. Ela só faz o que quer. Quando eu falo alguma coisa diferente do que ela quer ouvir, ela me interrompe e eu não consigo falar mais. E começa a discussão. Eu não sou de discutir, sabe doutora?
- Eu entendo perfeitamente. Mas você valoriza seu casamento e sua família?
- Claro doutora, são as coisas mais importantes que tenho na vida.
- Então preciso da sua ajuda.
- O que devo fazer?
- Gostaria que, a partir de hoje, você a elogiasse todo tempo que está perto dela ema algum ponto. Detalhes, sabe? Tipo… nossa como vc está linda com essa roupa ou que cabelo lindo você tem… entende?
- Entendo doutora. Mas você acha que isso vai funcionar?
- Eu acho sim.
- Doutora, quero te perguntar uma coisa. Sei que isso é ruim de conversar mas gostaria de fazer uma pergunta.
- Claro! Esteja à vontade!
- E o sexo doutora? Você acha que isso é possível de resolver?
- Claro que sim Sr Antônio! A partir do momento em que vocês se aproximarem, se respeitarem, se elogiarem e passarem a admirar um ao outro, a intimidade será natural. Aposto que sim!
- Puxa doutora, obrigada mesmo. Eu já to com 44 e pensei que isso fosse algo que nunca mais eu faria.
- Não será! No que depender de mim não será! Vocês voltarão a ser um casal normal. Dolores só precisa se conhecer melhor ok?
- Doutora eu vou fazer o que eu posso para ajudar. Eu também não sou fácil, mas as vezes não sei como lidar com ela e com se nervosismo. Então me afasto. Eu vou tentar melhorar.
- Ótimo! Conto com você !
- Obrigada doutora!

Bem, não preciso dizer que a conversa foi boa. Nunca me senti tão à vontade para contar minha vida. Por isso que a mulherada gosta disso, agora entendi. Homem não tem essa prática de conversar sobre problemas, até porque somos treinados para não demonstrar fragilidades.
Eu gostei muito da conversa. Mas pensar que posso até voltar a ter sexo com minha esposa foi a melhor notícia dos últimos tempos. Eu vou fazer minha parte, pode acreditar.

Contos Psicanalíticos – Viviane Siqueira

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